A Cortiça

A cortiça é a casca do sobreiro (Quercus Suber L), um tecido vegetal composto por um aglomerado de células de aspecto alveolar, preenchidas por uma mistura gasosa semelhante ao ar que ocupa cerca de 90% do volume, e revestidas por camadas alternadas de celulose e suberina. Em cada centímetro cúbico de cortiça existem em média 40 milhões de células.

A exploração do montado de sobro é uma actividade ambiental, social e económica sustentável .

Ao ser ciclicamente extraída das árvores sem lhes causar qualquer dano, a exploração da cortiça promove a sustentabilidade ambiental, social e económica das regiões onde é produzida. Incentivando o florestamento de áreas afectadas pelo risco de desertificação, a sua limpeza e conservação. O montado de sobro, constitui um ecossistema único no mundo, que abriga outras espécies autóctones da fauna e flora sendo fundamental para a sua salvaguarda. É de referir que 42 espécies de aves dependem destes, incluindo algumas espécies raras e em vias de extinção. Estima-se que o montado de sobro seja o habitat de 140 espécies de plantas e 55 espécies de animais, facto eventualmente inigualável a nível europeu.

Para além da cortiça, o seu material mais nobre, todo o sobreiro tem aproveitamento  económico. O seu fruto, a bolota, para além de ser utilizado para efeitos de replantação, é também destinado à forragem para animais e produção de óleos culinários; as folhas da árvore são utilizadas como forragem e fertilizante natural; o material resultante da poda e os exemplares da árvore em fim de vida fornecem lenha e carvão vegetal; e a partir dos taninos e dos ácidos naturais contidos na madeira são produzidos diversos produtos químicos.

Em complemento à produção florestal e às atividades associadas à extração de cortiça, o montado de sobro permite outras, como a turística, a caça, a apicultura, e a recolha de cogumelos, ervas aromáticas ou medicinais, contribuindo como uma mais valia para a economia local. 

Dotado de uma grande longevidade e de uma enorme capacidade de regeneração, o sobreiro vive em média de 150 a 200 anos, mas requer 25 a 30 anos até que o seu tronco esteja preparado para a produção de cortiça e a ser rentável, para tal é necessário que atinja um perímetro de 70 cm à altura de 1,50 m do chão. Durante a sua vida o sobreiro permite que se realizem em média cerca de 16 descortiçamentos intercalados por períodos de 9 anos, que são realizados de forma manual e cuidadosa para não causar danos à árvore e ao meio ambiente. No primeiro descortiçamento, ou desbóia, é retirada a cortiça virgem, ainda de estrutura irregular, só após o terceiro descortiçamento, por volta dos 40 anos de vida da árvore, esta irá proporcionar cortiça de qualidade superior, atingindo o exponencial das suas qualidades e propriedades.

A exploração e produção de produtos em cortiça é uma indústria altamente sustentável.

A produção do aglomerado expandido de cortiça, por exemplo, utiliza apenas vapor de água sobreaquecido, recorrendo para isso a geradores de vapor alimentados com os próprios resíduos da trituração da cortiça e dos acabamentos, não se introduzindo quaisquer outros produtos que não exclusivamente a cortiça, e dando-se a aglomeração com base nas resinas da própria cortiça. 

Todo o processo de transformação da cortiça não gera praticamente desperdício, pois todos os seus componentes têm utilidade económica, sendo reutilizados e valorizados.
 Os desperdícios provenientes do processo de produção de rolhas, são convertidos em granulados e reutilizados em aglomerados para revestimentos e isolamentos, no fabrico de rolhas técnicas, ou em artigos de decoração. E o pó de cortiça resultante desta produção pode ser utlizado como combustível, queimado para a produção de vapor e/ou energia utilizados nas próprias fábricas ou mesmo cedida à rede eléctrica, dado o elevado conteúdo energético deste material. O pó de cortiça pode ainda ser combinado com outros materiais, como a fibra de coco ou a borracha, dando origem a novos produtos de valor acrescentado.

O facto de se utilizarem produtos de cortiça é também muito importante do ponto de vista ecológico, porque se esta a utilizar um produto renovável em produtos de longa duração, promovendo a fixação de CO2. É de salientar também que  um sobreiro explorado com extrações periódicas de cortiça, produz entre 250% e 400% mais de cortiça do que se a árvore produziria se não fosse explorada, incrementando a fixação de CO2. (Gil, 1998)

Ao escolher a cortiça como material preferencial, promove-se o consumo responsável, tanto pelas características ecológicas do produto como pela garantia da salvaguarda da floresta e da biodiversidade.